Título Original: Dogville
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 177 minutos
Ano de Lançamento (França): 2003
Direção: Lars Von Trier
Roteiro: Lars Von Trier
Site oficial:http://www.dogville.dk/
Distribuição: Lions Gate Entertainment / California Filmes
Produção: Vibeke Windelov
Fotografia: Anthony Dod Mantle
Desenho de Produção: Peter Grant
Figurino: Manon Rasmussen
Edição: Molly Marlene Stensgard
Elenco:
>>> Nicole Kidman (Grace)
>>> Harriet Andersson (Gloria)
>>> Lauren Bacall (Ma Ginger)
>>> Jean-Marc Barr (Homem com grande chapéu)
>>> Paul Bettany (Tom Edison)
>>> Blair Brown (Sra. Henson)
>>> James Caan (Homem grande)
>>> Patricia Clarkson (Vera)
>>> Jeremy Davies (Bill Henson)
>>> Ben Gazzara (Jack McKay)
>>> Philip Baker Hall (Tom Edison Sr.)
>>> Siobhan Fallon (Martha)
>>> John Hurt (Narrador - voz)
>>> Udo Kier (Homem de casaco)
>>> Chloë Sevigny (Liz Henson)
>>> Stellan Skarsgard (Chuck)
>>> Miles Purinton (Jason)
Enredo:
O filme é dividido em 10 partes - cada uma com créditos e uma introdução narrada -, sendo 1 prólogo e 9 capítulos. A trama acontece em um único local, uma cidade pequena dos Estados Unidos chamada "Dogville", situada no fim de uma estrada que vai até as Montanhas Rochosas, na época da grande depressão estadunidense.
O filme começa com uma tomada de cima pra baixo, onde pode-se ver o desenho da cidade (com as marcações dos espaços das casas desenhados no chão). Essas tomadas perpendiculares repetir-se-ão em diversas cenas, sendo marcos importantes da narrativa. O narrador vai então apresentando os personagens um por um ("todos têm pequenos defeitos facilmente perdoáveis") e contando suas histórias.
Entre os moradores de Dogville, o personagem principal é Thomas Edson Jr., um escritor que para protelar o dia em que terá que começar a escrever seu livro se ocupa em pregar sermões à toda comunidade sobre rearmamento moral. Ele está procurando um exemplo para servir de ilustração às suas teorias e assim comprovar que os moradores não são capazes de aceitar novas situações, quando é interrompido por barulhos de tiros a distância.
Nesse momento entra Grace, uma bela jovem com um vestido que denota sua origem de família rica. Ela diz a Tom que está fugindo de um gângster e Tom, percebendo nela o exemplo perfeito para sua palestra, lhe dá cobertura.
Os moradores de Dogville a princípio recusam-se a aceitá-la, e Tom propõe que dêem a Grace um prazo de duas semanas, para então decidirem sua sorte. Grace, em compensação, deve ajudá-los em tarefas cotidianas. Apesar de não admitirem, eles jamais dão coisa alguma, não há generosidade ou aceitação: há um sistema de trocas e é esse sistema de compensações (o quid pro quó) que, aliado à personalidade de perdoar de Grace (seu altruísmo) anuncia a tragédia.
Os moradores relutam até mesmo em aceitar a ajuda de Grace, mas acabam aceitando e Grace rapidamente começa a passar seus dias ocupada em fazer pequenas coisas que "não são necessárias", mas que os moradores "generosamente permitem" que ela faça. E assim passam-se as semanas, os moradores aceitam que Grace fique na vila, como mais um favor que ela ficará devendo a eles.
Tom confessa a Grace que gosta dela e é correspondido, mas ele não assume publicamente seu amor perante Dogville, mantendo o romance deles secreto e mantendo Grace na condição de estrangeira.
A aparente tranquilidade da situação começa a mudar no dia da Independência, quando a cidadezinha recebe a visita da polícia, que afixa um cartaz onde Grace é apontada como procurada.
Os moradores de Dogville consideram ainda maior a dívida de Grace com eles, fazendo cada vez mais exigências, que diante da permissividade e comportamento passivo de Grace, rapidamente transformam-se em abusos. Uma cena forte do filme é quando Chuck a estupra, como "pagamento" para que ele não a denunciasse às autoridades. Aqui a função do cenário vazio é clara: a ausência de paredes dá a nítida percepção de que todos sabem o que se passa mas fingem não ver.
A comunicação também não parece ser possível para os moradores de Dogville. O que eles falam passa longe de significar o que realmente querem dizer. Quando questionados são evasivos, mudam de assunto ou simplesmente respondem outra coisa. Chuck fala de colheita de maçãs quando está querendo abusar sexualmente de Grace, e Ma Ginger reprime-a quando ela passa entre os arbustos, com argumentos que simplesmente não correspondem àquilo que ela diz.
Desse ponto em diante a constante dívida de Grace com a comunidade só cresce e ela torna-se uma escrava não só de trabalho físico como sexual. Em pouco tempo a tratam como uma vaca, que puxa um arado, onde os caipiras se aliviam. Somente Tom, sem capacidade de tomar qualquer atitude, não a viola. E é após ela o rejeitar, que ele decide dar um basta nessa pequena metáfora ilustrativa que ela representa, chamando o gângster que a procurava.
Nesse momento revela-se que Grace não está sendo ameaçada por eles, mas é a filha do chefe maior. Não há surpresa no final: desde que Grace entra no carro o diretor vai preparando a platéia com a idéia de que haverá um massacre. E sem dúvida, não fosse este final apoteótico, o filme terminaria morno, indigesto, como se todos estivessem com algo na garganta. O final catártico faz com que Dogville apresente uma estrutura narrativa herdeira das tragédias gregas, onde a platéia era levada a uma situação de tensão insuportável e liberava a adrenalina contida no final trágico.
(Enredo retirado na integra do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dogville )
Comentários:
Ok! Vamos lá!
Sinceramente nunca pensei que voltaria a tentar assistir esse filme, porém dia desses após comentar a respeito do filme "Uma Noite no Museu"(olhem o tópico) e por tabela comentar de dogville, "recebi" o seguinte post do Guilherme (membro da comunidade):
"Olha, nao assisti a uma noite no museu, mas precisei vir falar com o Ribas sobre o Dogvile hehehehe! Ribas, se voce ler o meu profile vai ver que ele é o meu filme preferido, simplesmente sensacional! O filme tem 3 horas de duração, e a sua primeira hora é muito cansativa, neste ponto eu concordo,. Mas as suas ultimas duas horas são simplesmente inacreditáveis! A cena do estupro é brilhante... De mais uma chance e se puder assista ao making off que mostra a loucura que é trabalhar com um diretor surtado como o Lars Von Trier! Ah, e de quebra o filme tem uma continuação chamada Manderlay e vai se tornar uma trilogia com o filme Washington em 2007 ou 8!"
Pois bem, diante desse post emocionado, eu, fã de cinema, resolvi dar mais uma chance a este "filme", e pela quarta vez tentei assistir, maaaaaaaaaaas dessa vez, fui esperto, começei assistir do minuto 70 em diante!!
Assumo aqui que "nos 60 minutos iniciais" fiquei xingando o filme e só não lutei contra o sono, porque acordei bem tarde hoje, porém realmente os minutos finais são interessantes e adorei o final, principalmente pq queria que o final fosse no começo, assim não teríamos aquele povoado e por tabela, não teríamos o filme ehehehe
Sei que talvez o Guilherme e a legião de fãs que esse filme possui, talvez queiram me matar, maaaaaaaaaaaas vou dizer, afirmar e confirmar, agora que finalmente (depois de 3 outras tentativas frustradas) consegui chegar ao fim desse filme, posso dizr de boca cheia (estou mal educado hoje)
FILME CHAAAAAAAAAAAAAATO !!!!!!
Vejam bem, não é um filme ruim, eu diria até que ele é bem interessante e, se vc se permitir viajar p/dentro dele e do que "talvez"ele queira passar, ele se torna um filme muitissimo interessante, maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaas ELE É MUITO CHAAAAAAAAAATO!!!!
Em 90 minutos, um bom diretor teria contado a mesma história, causado os mesmos bons efeitos e dado o mesmo passaporte para viagens intelectuais, sem a contrapartida, de ter o filme comentado e rotulado por todos os fãs, como um "filme que tem um final maravilhoso", e/ou comentado e rotulado pelos não fãs, como um filme bom p/ser assistido em noites de insônia...
Quem quiser ver esse filme (por incrivel que pareça, agora que consegui acabar de ver, eu diria que até vale a pena, nem que seja só p/conhecê-lo) aconselho o seguinte, assistir os 30 minutos iniciais, saltar p/o minuto 70, assistir mais uns 20, pular 20 e então ir até o final(realmente interessante).
De resto, conto-lhes que assistirei a "continuação" de 2005, intitulada, "Manderlay" e o futuro fecho da trilogia, qdo estiver pronto... (Agradeço realmente ao Guilherme pela dica, a qual nem imaginava...)
Por fim, p/quem viajou ou viajará intelectualmente nesse filme, aconselho a leitura do trabalho, publicado na "revista espaço acadêmico" (de número 38, datada de Julho de 2004), do (atualmente, possivelmente já) Doutor em História Social ALEXANDRE BUSKO VALIM que, passo a postar abaixo na integra:
O dogmatismo de Dogville
Um dos primeiros signatários do manifesto denominado “Dogma 95” surgido
em Copenhague em 1995, foi Lars Von Trier. O manifesto procurava
contrariar algumas tendências do “cinema comercial” e recuperar um
cinema que consideravam estar morto. O Dogma 95 opunha-se ao conceito de
autor, de cinema individual e efeitos especiais. Segundo tal manifesto
“A tarefa ‘suprema’ dos realizadores decadentes é enganar a audiência. É
disso que estão tão orgulhosos? Foi isso que ‘100 anos’ nos deram?
Ilusões a partir das quais as emoções podem ser comunicadas? (...) Uma
ilusão da dor e uma ilusão do amor”. Se observarmos as regras do “voto
de castidade" [1] contido no manifesto assinado por Von Trier, veremos
que Dogville não pode ser considerado como uma produção tardia do Dogma
95. No entanto, o radicalismo formal e de conteúdo em Dogville lembra,
ao menos, as ousadas experiências feitas pelo movimento dinamarquês.
Dogville é uma pequena cidade, com pouco mais de uma dezena de residentes, situada em algum lugar entre as montanhas do meio-oeste estadunidense. A história se passa durante a Grande Recessão Americana na década de 1930 e gira em torno de Grace (Nicole Kidman), uma jovem que, fugindo de perigosos gangsteres, acaba encontrando refúgio em Dogville. Encantado com a moça, o introspectivo Tom (Paul Bettany) propõe que a cidade ofereça abrigo a Grace que, em troca, faria pequenos serviços para seus moradores. Aos poucos, porém, os aparentemente amáveis habitantes de Dogville, ao descobrirem que ela está sendo procurada pela polícia, vão exibindo um lado sombrio e passam a explorar a garota, a impedindo de abandonar o lugar.
Von Trier criou um espaço cinematográfico simples e despojado incorporando elementos teatrais e literários; utilizando vários elementos do teatro de Bertolt Brecht. Minimalista, o diretor utilizou alguns objetos de cena mas nenhum cenário; apenas linhas pintadas no chão demarcando duas ou três ruas e algumas casas.
Dogville é uma pequena cidade, com pouco mais de uma dezena de residentes, situada em algum lugar entre as montanhas do meio-oeste estadunidense. A história se passa durante a Grande Recessão Americana na década de 1930 e gira em torno de Grace (Nicole Kidman), uma jovem que, fugindo de perigosos gangsteres, acaba encontrando refúgio em Dogville. Encantado com a moça, o introspectivo Tom (Paul Bettany) propõe que a cidade ofereça abrigo a Grace que, em troca, faria pequenos serviços para seus moradores. Aos poucos, porém, os aparentemente amáveis habitantes de Dogville, ao descobrirem que ela está sendo procurada pela polícia, vão exibindo um lado sombrio e passam a explorar a garota, a impedindo de abandonar o lugar.
Von Trier criou um espaço cinematográfico simples e despojado incorporando elementos teatrais e literários; utilizando vários elementos do teatro de Bertolt Brecht. Minimalista, o diretor utilizou alguns objetos de cena mas nenhum cenário; apenas linhas pintadas no chão demarcando duas ou três ruas e algumas casas.
O cenário invisível (sem paredes, janelas ou portas) permite que o
espectador veja os coadjuvantes em seus afazeres longe do foco principal
da ação. Além de servir como metáfora do filme, não desviando a atenção
do espectador para nada além da narrativa, o artifício ressalta a
dramaticidade através da encenação. Desse modo, Von Trier consegue
estender a profundidade de campo e sublinhar as conseqüências de cada
ação individual em relação à comunidade como, por exemplo, nas
seqüências em que Grace é estuprada.
Ao abdicar dos cenários e dos adereços, o diretor procurou valorizar o âmago de cada personagem para que o espectador, despojado do “supérfluo” e do “superficial”, pudesse olhar apenas para o que verdadeiramente interessa em seu filme: a desumanidade que “emana” da humanidade.
Embora o filme seja composto por um prólogo, que apresenta os personagens, e nove capítulos, sua argumentação pode ser divida em três partes: 1 - Grace é aceita na cidade ao se tornar útil a cada um dos moradores - oferecendo sua companhia a um homem cego que não admite a cegueira (Ben Gazzara), colhendo maçãs para um sitiante (Stellan Skaarsgard) ou cuidando do pomar de Ma Ginger (Lauren Bacall). 2 - Quando a polícia e os gangsteres intensificam a procura por Grace e os moradores tornam-se cruéis. 3 – O desfecho da trama, com uma mudança de atitude de Grace.
Dentre as leituras possíveis de Dogville, a que trata o filme como uma parábola moral me parece ser a mais interessante. Nessa perspectiva, Dogville é uma “novela exemplar” sobre o comportamento humano, a vida em comunidade e a tensão que se estabelece entre a escolha individual e a norma coletiva.
Ao abdicar dos cenários e dos adereços, o diretor procurou valorizar o âmago de cada personagem para que o espectador, despojado do “supérfluo” e do “superficial”, pudesse olhar apenas para o que verdadeiramente interessa em seu filme: a desumanidade que “emana” da humanidade.
Embora o filme seja composto por um prólogo, que apresenta os personagens, e nove capítulos, sua argumentação pode ser divida em três partes: 1 - Grace é aceita na cidade ao se tornar útil a cada um dos moradores - oferecendo sua companhia a um homem cego que não admite a cegueira (Ben Gazzara), colhendo maçãs para um sitiante (Stellan Skaarsgard) ou cuidando do pomar de Ma Ginger (Lauren Bacall). 2 - Quando a polícia e os gangsteres intensificam a procura por Grace e os moradores tornam-se cruéis. 3 – O desfecho da trama, com uma mudança de atitude de Grace.
Dentre as leituras possíveis de Dogville, a que trata o filme como uma parábola moral me parece ser a mais interessante. Nessa perspectiva, Dogville é uma “novela exemplar” sobre o comportamento humano, a vida em comunidade e a tensão que se estabelece entre a escolha individual e a norma coletiva.
Na segunda parte do filme, de maneira completamente oposta à primeira
impressão que Grace tem quando conhece os residentes da pequena cidade,
os moradores revelam a sua vilania, representada através de pecados da
natureza humana como: a vaidade (Chloe Sevigny), o orgulho (Ben
Gazarra), a ira (Patrícia Clarkson), a luxúria (Jean-Marc Barr), a
avareza (Lauren Bacall) e a inveja (Stellan Skarsgard). Desse modo, por
trás do gesto de tolerância e compreensão coletiva, só haveria torpes
interesses individuais.
Em algumas seqüências existem motivos que estão relacionados a uma crítica do diretor à sociedade estadunidense como, por exemplo, no escritor pragmático que tenta transformar o vilarejo em um laboratório para testar suas teorias moralistas e obter material para um “grande livro”; o hábito de discutir as questões da comunidade em assembléias paroquiais – uma atividade coletiva, mas que no filme é uma máscara que esconde um individualismo conservador e possessivo, além do ódio ao forasteiro; quando Grace ensina o estoicismo aos filhos de Vera (Patricia Clarkson) lhes mostrando como suportar a pobreza e as frustrações sem revoltas. Entretanto, apesar destes pontos, talvez o filme seja mais uma crítica à sociedade de classes do que à sociedade estadunidense.
De maneira bastante moralista o filme afirma repetidamente, e de forma agressiva, que todos somos responsáveis pelos nossos atos, e se temos problemas é porque não fazemos o suficiente para resolvê-los. Assim, nossa ignorância e ausência de um verdadeiro interesse pelo coletivo, ilustrado em várias passagens, é a alavanca que causa dor e sofrimento a nós mesmos; como, por exemplo, na seqüência em que um morador é reprimido verbalmente pelos outros dentro da igreja, ao lembrar que eles nunca se ajudam.
Em algumas seqüências existem motivos que estão relacionados a uma crítica do diretor à sociedade estadunidense como, por exemplo, no escritor pragmático que tenta transformar o vilarejo em um laboratório para testar suas teorias moralistas e obter material para um “grande livro”; o hábito de discutir as questões da comunidade em assembléias paroquiais – uma atividade coletiva, mas que no filme é uma máscara que esconde um individualismo conservador e possessivo, além do ódio ao forasteiro; quando Grace ensina o estoicismo aos filhos de Vera (Patricia Clarkson) lhes mostrando como suportar a pobreza e as frustrações sem revoltas. Entretanto, apesar destes pontos, talvez o filme seja mais uma crítica à sociedade de classes do que à sociedade estadunidense.
De maneira bastante moralista o filme afirma repetidamente, e de forma agressiva, que todos somos responsáveis pelos nossos atos, e se temos problemas é porque não fazemos o suficiente para resolvê-los. Assim, nossa ignorância e ausência de um verdadeiro interesse pelo coletivo, ilustrado em várias passagens, é a alavanca que causa dor e sofrimento a nós mesmos; como, por exemplo, na seqüência em que um morador é reprimido verbalmente pelos outros dentro da igreja, ao lembrar que eles nunca se ajudam.
Após 8 kafkianas e angustiantes partes, Grace [2] se encontra com o pai
gangster (James Caan) dentro do carro e iniciam uma conversa sobre o
destino de Dogville. O gangster, na perspectiva que apontamos
anteriormente, é um Deus severo e vingativo assim como no Antigo
Testamento. Nesse momento, ela e o pai dialogam sobre a soberbia: Ela
quer o perdão para os habitantes da cidade, como se dissesse "eles não
sabem o que fazem". Deus a acusa de soberbia por fazer a concessão de
perdoar quem lhe é inferior e lhe impingiu tanto sofrimento. Grace diz
que o pai é soberbo devido à sua vontade de vingança e pede poder, que
lhe é concedido, para salvar Dogville. Entretanto, ao sair do carro, e
ouvir Tom "o intelectual" dizer que escreveria sobre o que se passou,
que aquilo seria passível de análise, ela se desilude com a humanidade e
purga Dogville com o aniquilamento – houve aplausos entusiásticos na
sessão em que eu o assisti.
Uma leitura possível do personagem Tom é que ele representa tão somente a parte da sociedade intelectualizada que, no filme, sempre repete as mesmas coisas, confunde os outros com seus discursos vagos; mente para dar coerência às suas teorias e tem medo de uma inserção mais incisiva nos problemas sociais; os exemplos estão presentes em várias seqüências, como por exemplo, quando ela é estuprada próximo dele. A esperança que Grace tinha na humanidade se perde quando os que realmente poderiam fazer algo, o titubeante Tom, não fazem e reafirmam sua hesitação e passividade; uma crítica ao papel dos intelectuais como operadores sociais, que reforça a opinião do diretor: a humanidade não tem salvação.
Uma leitura possível do personagem Tom é que ele representa tão somente a parte da sociedade intelectualizada que, no filme, sempre repete as mesmas coisas, confunde os outros com seus discursos vagos; mente para dar coerência às suas teorias e tem medo de uma inserção mais incisiva nos problemas sociais; os exemplos estão presentes em várias seqüências, como por exemplo, quando ela é estuprada próximo dele. A esperança que Grace tinha na humanidade se perde quando os que realmente poderiam fazer algo, o titubeante Tom, não fazem e reafirmam sua hesitação e passividade; uma crítica ao papel dos intelectuais como operadores sociais, que reforça a opinião do diretor: a humanidade não tem salvação.
A mensagem na seqüência final, quando Grace ouve os latidos do cachorro
chamado “Moisés”, é que o animal tinha um motivo para não gostar dela,
afinal ela havia roubado seu osso. Ela permite que o cachorro fique vivo
pois nele há algo que não havia nos habitantes de Dogville, o que era?
Nesse momento, o narrador em off diz: "será que alguém terá coragem de
perguntar? e se isso for feito, será que alguém terá coragem de
responder?". A resposta soa um tanto quanto óbvia e reafirma Grace como
uma mártir destinada a limpar tais impurezas como um Cristo redivivo e
altivo; No entanto, no encontro imaginado por Lars Von Trier ante a
desumanidade de Dogville, a divina Grace, sem nenhum desejo de conceder o
perdão, desencadeia o “Dia do Juízo Final”.
As quase três horas de filme terminam com fotografias tiradas nos EUA na década de 1930 e com um fundo musical de "Young Americans", de David Bowie, reafirmando a crítica do diretor à política estadunidense. Juntamente com Dogville, foi produzido um documentário com os relatos – em forma de confessionário – dos participantes do filme, intitulado “Dogville Confessions”. Dogville será o primeiro de uma trilogia centrada nos Estados Unidos e chamada USA: The land of opportunities. O segundo filme, que começa a ser rodado em março de 2004, chama-se Manderlay - sobre a escravidão no sul dos Estados Unidos - e o terceiro Wasington.
Em Dogville, Lars von Trier apresenta uma percepção pessimista da humanidade, onde impera o cinismo, a hipocrisia, a chantagem, a vingança, a mentira, e uma visão dogmática que, além de rejeitar qualquer alternativa, simplifica e naturaliza a maldade.
As quase três horas de filme terminam com fotografias tiradas nos EUA na década de 1930 e com um fundo musical de "Young Americans", de David Bowie, reafirmando a crítica do diretor à política estadunidense. Juntamente com Dogville, foi produzido um documentário com os relatos – em forma de confessionário – dos participantes do filme, intitulado “Dogville Confessions”. Dogville será o primeiro de uma trilogia centrada nos Estados Unidos e chamada USA: The land of opportunities. O segundo filme, que começa a ser rodado em março de 2004, chama-se Manderlay - sobre a escravidão no sul dos Estados Unidos - e o terceiro Wasington.
Em Dogville, Lars von Trier apresenta uma percepção pessimista da humanidade, onde impera o cinismo, a hipocrisia, a chantagem, a vingança, a mentira, e uma visão dogmática que, além de rejeitar qualquer alternativa, simplifica e naturaliza a maldade.
(FIM)
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